Andorra Ultra Trail VallNord - Ronda dels Cims 2019 - S02E11

“Any moment might be our last. Everything is more beautiful because we're doomed. You will never be lovelier than you are now. We will never be here again.”
― Homer, The Iliad
"O que vivi merece ser escrito, para me lembrar que vivi"
- Pedro Paixão
9º Mesociclo
(25ª, 26ª, 27ª e 28ª semanas de 2019 - 17/06 a 14/07
O inicio desta aventura está descrito aqui:
Andorra Ultra Trail VallNord - Ronda dels Cims 2019 - S02E01
Este será o último Mesociclo antes da prova, que terá inicio no dia 19/07.
Infelizmente não foi um bom Mesociclo porque estive duas semanas doente, com uma gasteroenterite que me enfraqueceu muito e tornou impossível treinar adequadamente.
Por outro lado perdi imenso peso, e neste momento atingi o meu objetivo de ir para a prova pesando 70 kg (resta saber quanto disso foi gordura e quanto foi massa muscular).
Nota (atualização):
Entretanto, desde a publicação original deste post, já aumentei 2kg, mas também julgo que me irão fazer falta...
No passado domingo, dia 07/07, participei nos 31K do Sintra Trail X'Treme e, embora tenha terminado a prova, senti-me bastante fraco nas subidas, que fiz todas a andar, num percurso que normalmente faria a trote. Demorei 4h30 a fazer os 31K, o que é relativamente lento para mim.
Enfim, agora não há muito a fazer, apenas acreditar que recuperarei as forças nos próximos 10 dias, e iniciar a preparação mental.
Microciclos semanais:
Total mensal:
A minha medida de treino, desde que comecei a treinar regularmente, em 2008, combina a distância com a altimetria da seguinte forma:
km-effort = distância (km) + 10 x desnível (km).
Nota-se que existe um grande hiato desde a minha anterior tentativa nesta prova, em 2017, e o re-inicio dos treinos, em 2018. Os primeiros seis meses deste ano foram bons meses de treino. Foi pena este percalço final, mas a vida e o treino são mesmo assim. O heroísmo consiste em subirmos além da nossa condição, ultrapassando os revezes que a fortuna nos lança pela frente.
O VO2max também variou com o tipo de treino: no Verão e Outono sobretudo estrada e a partir de 2019, sobretudo Montanha:
Agora resta apenas fazer alguns treinos curtos e começar a focar-me na prova.
Para isso há que estudar o percurso, a altimetria e o terreno. Visualizar na mente cada pedra, cada árvore, cada ribeiro, cada crista. Torná-las minhas amigas. Dormir e sonhar com elas.
Verificar o material obrigatório, o material aconselhado e as minhas próprias necessidades de hidratação, reposição de sais e ingestão de calorias.
Estudar os tempos de corte. Elaborar um plano de progressão.
Felizmente a organização disponibilizou uns vídeos excelentes para a preparação.
Descrição:
Giant route around the whole Principality of Andorra, including a visit to its highest point, Comapedrosa at an altitude of 2.942 meters, touching on the border. In the light of the full moon on the longest days.
- 170 k ( 106 mi.) 13.500 meters (8 mi.) of elevation gain and 13.500 meters (8 mi.) of elevation loss.
- Departure from Ordino town centre on Friday on the morning and finish in Ordino town centre
- 16 peaks or passes upon 2.400 meters
- Average altitude: 2.085 meters
- The most spectacular feature: panoramic views, alternate zones of minerals, high mountain meadows, forests, glacial lakes...
- The most technical section: some completely safe rocky ridge sections
- Sticks allowed
- 13 refreshment points
Time limits:
- Friday at 5 pm (10-hours race): Coma d'Arcalís (31K)
- Saturday at 9 am (26-hours race): Margineda (73K)
- Sunday at 2 am (43-hours race): Refugi de l'Illa (116K)
- Sunday at 8 am (49-hours race): Pas de la Casa (130K)
- Sunday at 12 am (53-hours race): Vall d'Incles (142K)
- Sunday at 7.30 pm (60,5-hours race): Sorteny (158K)
Para termos uma ideia da dificuldade do percurso, basta atentarmos nas classificações dos primeiros (resultados de 2017):
400 participantes, 184 finishers.
Meteorologia:
Tempo
Relativamente ao tempo, temos boas notícias:
"Em geral, teremos boas condições para desfrutar de todas as provas, especialmente porque melhoraram o prognóstico para o final de semana, quando parece que ficaremos muito bem!"
- Temperatura que será mantida com um calor muito contido , por isso não teremos que sofrer de calor excessivo.
- Também não se espera temperaturas muito baixas ou ventos fortes que aumentem muito a sensação de frio.
- Tempo dinâmico como corresponde aos Pirinéus no verão! Os mapas atuais nos indicam todas as manhãs estáveis e sem precipitação e devemos estar atentos à tarde da tarde às quartas e quintas-feiras, embora não pareça muito preocupante ter problemas com a prova desses dois dias. O fim de semana parece ser muito estável.
Percurso:

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Habitualmente, ao soar o tiro de partida todas as minhas dúvidas se dissipam. Nunca inicio uma aventura destas a pensar que não vou chegar ao fim. Nas únicas duas vezes em que isso aconteceu, em 2017, não terminei ambas as provas.
Portanto tento assumir sempre uma postura positiva e confiante. É para colocar um pé em frente ao outro e continuar em frente. O meu plano é fazer uma média de cerca de 3 km/h e terminar em 57 horas.
Normalmente demoro uns 20 a 30 kms até aquecer e entrar em modo de cruzeiro. E sei que, durante estas longas horas que me esperam, irei passar por todos os estados de espírito possíveis. Desde a euforia completa (é necessário particular prudência nestas alturas, pois a tendência é acelerar o passo para além do sustentável), até ao fundo da depressão (aí é necessário ter muita calma e manter sempre em mente que também isso passará)
A imensa alegria da partida:

A brutal subida para Comapedrosa (900mD+ em 2km)

Alguma informação útil:
Descrição do Rui Nascimento:
2017:
O material obrigatório consiste em:
- Mochila
- Casaco Impermeável
- Calças impermeáveis
- Roupa térmica que cubra todo o corpo
- Buff ou gorro
- Luvas com dedos
- Frontal com pilhas de reserva
- Manta térmica de sobrevivência
- Apito
- Banda elástica adesiva
- Recipiente com 1 litro de água (no meu caso, mochila de hidratação com 1.5 l + 2 bidons de 500 ml cada)
- Telemóvel carregado
- Reserva alimentar (descrita em baixo). Uma prova destas é coisa para dar um consumo de mais de 20.000 Kcal.
Eu nunca poupo no material obrigatório, pois no meio da montanha, sobretudo de noite, pode vir a revelar-se providencial. Pesa imenso na mochila, mas tem que ser (sem água, anda pelos 2.5 kg; se encher a bexiga e os 2 bidons então são mais 2.5 kg!).
Para além do obrigatório, levo ainda:
- Ténis Kelenji Kiprun MT + um par para a primeira base de vida
- Bastões
- T-shirt técnica
- 2ª camada térmica de manga curta para o tronco
- Corsários a cobrir os joelhos
- Boné
- Luvas sem dedos
- Manguitos
- Perneiras
- Porta-dorsais
- Mica e/ou fita-cola para reforçar o dorsal.
- Plano e perfil da prova
- Frontal de substituição com pilhas de reserva
- 9 géis PowerBar, sabor maçã, de 42 g com 50 mg de cafeína e 205 mg de sódio (103 Kcal cada)
- 2 barras PowerBar, sabor banana, de 55 g, com 210 mg de sódio e 76 mg de magnésio (203 Kcal cada)
- 8 saquetas de redrate (eletrólitos) + 8 para as bases de vida
- Comprimidos de sal
- 4 comprimidos de ibuprofeno (para ser usado em caso de emergência e com muito cuidado pois pode ter um efeito adverso na função renal)
- 4 comprimidos de paracetamol
- 4 comprimidos de imodium rapid
- 4 comprimidos de imodium
- 4 comprimidos de pantoprazol
- Copo
- Bisnaga de vaselina para hidratar os pés
- Bisnaga de protetor solar
- Betadine
- Bepanthene
- Isqueiro
- 1 vela tea light
- Canivete pequeno
- Corta-unhas
- Lenços de papel para limpar onde o sol não brilha.
- Garmin Fénix 3
- Powerbank de 5.000 mAh
- GoPro
- Nota de 20 euros para alguma emergência
Agora a dúvida principal é como dividir o material pelos 2 sacos que serão levados pela organização até aos 2 pontos de muda?
A minha estimativa é conseguir progredir a um ritmo de cerca de 3 km/hora, ou seja demorar um total de 57 horas e chegar cerca das 16 horas da tarde do 3º dia. Ou seja, chegar aos 73 km cerca das 7h da manhã do 2º dia e aos 130 km cerca das 2 horas da madrugada do 3º dia.
Por segurança resolvo colocar mais material no 1º saco do que no 2º. Se for necessário carregarei com mais tralha a partir do km 73, e até ao fim, caso se justifique.
No 1º saco coloco (km 73):
- Uma réplica de toda a roupa que levo na partida, exceto impermeáveis
- Uma camada polar, para o caso do meu ciclo circadiano levar a um arrefecimento acentuado do corpo durante a noite
- Ténis de substituição
- Bastões baratos de substituição
- Telefone de substituição
- 4 géis PowerBar, sabor maçã, de 42 g com 50 mg de cafeína e 205 mg de sódio (103 Kcal cada) + 4 geis sem cafeína.
- 2 barras PowerBar, sabor banana, de 55 g, com 210 mg de sódio e 76 mg de magnésio (203 Kcal cada)
- 4 saquetas de redrate
- Carregador do GPS Garmin
- Bisnaga de vaselina para hidratar os pés
- Bisnaga de protetor solar
No 2º saco coloco (km 130):
·
- Uma réplica de toda a roupa que levo na partida, exceto impermeáveis.
- Uma camada polar, para o caso do meu ciclo circadiano levar a um arrefecimento acentuado do corpo durante a noite
- 4 géis PowerBar, sabor maçã, de 42 g com 50 mg de cafeína e 205 mg de sódio (103 Kcal cada) + 4 geis sem cafeína.
- 2 barras PowerBar, sabor banana, de 55 g, com 210 mg de sódio e 76 mg de magnésio (203 Kcal cada)
- 4 saquetas de redrate
- Bisnaga de vaselina para hidratar os pés
- Bisnaga de protetor solar
No saco da chegada costumo colocar (mas desta vez não deverá ser necessário):
- Roupa quente
- Ténis lavados
- Toalha para banho + chinelos + sabonete
Eis aqui o excelente relato do meu amigo João Mota:
A Grande Aventura em Ronda del Cims
E do veteraníssimo Jorge Serrazina:
A Minha passagem por Andorra
TSF-Runners:
tsf-runners-14-julho
Vídeos oficiais:
Música:
O que iremos ouvir na linha de Partida.
Why people run 100 miles
"when it's your time is a goal to leave a well-preserved body or do you really want to use it a body with stories that says you've pushed it and at times suffered and you sought its potential."
Ronda faz-me recordar um dos combates de boxe mais famosos de sempre:
A famosa "The Ramble in The Jungle" entre o campeão de pesos-pesados George Foreman e o sublime Muhammad Ali.
Neste combate, de 15 rounds, Ali utilizou uma nova técnica, a partir daí alcunhada rope-a-dope, de apenas se defender junto às cordas contra a barragem de golpes que Foreman, sete anos mais novo e muito mais possante, descarregou sobre ele. Isto durou 8 rounds até que o adversário, esgotado abriu a guarda e com dois socos certeiros, Ali o levou ao tapete, num KO técnico.
Assim é com Ronda: Não podemos deixar que Ronda nos esgote, mas temos nós que esgotar Ronda. Acima de tudo, temos que ter muita paciência.
E o mais importante de tudo: as pessoas que estarão comigo na prova e me ajudarão a superar as dificuldades:
Família


No domingo à tarde deverei ter este aspeto:
Vou levar um GPS Tracker e para além disso há este Link onde me podem seguir:
CRONO AUT
GPS Tracker

Para pernoitar, irei ficar bem localizado, perto de Ordino:
O meu ranking ITRA tem vindo sempre a piorar, desde o UTMB em 2015.
Acho que a dureza com que vivi o UTMB, conjugada com certos aspetos da minha vida pessoal, foram para mim uma espécie de nemésis...
UTMB
Vamos ver se isto agora começa a melhorar... :)
ITRA Performance Index











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